sexta-feira, 28 de março de 2008

Na areia

Encontrei sentada na areia, perna cruzada, com um vestido rosa a proteger do frio, usava um colar de missangas pretas, estava com um olhar triste, ausente, transparente, sei que naquele momento sentia-se um simples objecto. Um objecto feio que o mundo despejou, um objecto deixado à mercê da chuva, do vento, do frio… sentia-se completamente sozinha! Sozinha com o som de pequenas ondas a arrebentar na areia, ondas a morrer contra rochas, ondas de marés… sentia-se sozinha a tentar compreender o porquê daquela sua tristeza, o porquê da constante ausência dele!Sentia-se sozinha a ansiar pelo abraço doce dele, sentia-se sozinha a imaginá-lo, sentia-se sozinha a imaginar um beijo dele… sentia-se sozinha por estar sem ele!Pensei, “pobre moça. Uma moça bonita e perdida, uma moça com um olhar triste.”Aproximei-me, ela não sentiu a minha presença, tentei falar, mas o vento roubou-me as palavras… comecei a sentir-me asfixiada pelo tempo, pelas ondas, pelas rochas… continuei a tentar lhe falar mas ela nunca deu por mim… gritei, o vento novamente levou as minhas palavras… tentei lhe abraçar e não consegui. E ai… percebi…Estava a olhar para mim…

Distância


Sempre gostei que as pessoas tivessem a distância que acho que elas devem ter de mim, nem mais nem menos. De ti… bem… de ti quero-te perto…Mas… enquanto a distância que temos se mantém, só me resta as memórias… e a saudade como sentimento predominante no passar dos meus dias…Ando a sentir saudade de um toque, de um beijo. Não de um toque e um beijo qualquer, mas sim, claro, do teu toque e dos teus beijos. Falta da forma como a tua mão, distraída, que tão bem sabe passear pelo meu corpo, tocando no meu peito, e a nossa respiração a ficar cada vez mais ofegante, adolescentemente ofegante, apaixonadamente sem ar. De ter o meu corpo junto ao teu, em longos ou simples abraços, ou apenas de sentir os teus dedos em suaves carícias. A minha memória de ti tem cores fortes e nítidas. Ou a minha memória de adormecer abraçada a ti. E ao adormecer sentir o teu respirar ficar, lentamente, pausado. De entrelaçar a mão, sobre o teu peito. De deixar o sono entrar em mim, abraçado à paz de te sentir nos meus braços. Quero voltar a partilhar o sono contigo. De acordar contigo a sorrir para mim…

quinta-feira, 27 de março de 2008

Dança neste Mar

Imagem: Ricardo Santos

Vem, dança…
Dança neste mar de ondas…
Deixa que o vento traga o teu cheiro.
Aquece-me com o teu sorriso!
Deixa que a maresia traga os teus gestos subtis…
O mistério dos teus passos…
Vem… quando cá chegares...
Faremos uma dança nova, uma dança só nossa!
Vem, dança comigo.
Quebraremos esta escuridão.
Aqueceremos a nossa dança…
Vem, dançaremos na madrugada de um dia de histórias contadas.
Dançaremos no dia de instantes recordados…
Ficaremos na noite, dançando o que somos…
Transpiramos, suspiramos, respiramos o que ainda é nosso!
Vem, Nesta dança de nós!

Contemplação

Imagem: Ricardo Santos



As ondas vinham efusivas, como se tivessem pressa em cá chegar. Mas delas só saíam pequenos fragmentos de mar que embateram nas rochas e choraram. Não sei se embateram no vértice lateral da rocha redonda ou, se foram contra a rocha lisa que de tão enrugada é difícil de ser interpretada. Fiquei só a olhar, até ao momento que as gaivotas que pairavam sobre as rochas, decidiram acalmar seu voo e fizeram-me companhia a contemplar as ondas desse Mar.